Roberto

... caminhava pela rua, debaixo de uma chuva de passos, ritmando um caminho de percussões suspensas, trazendo até mim deuses de muito tempo, abrindo o solo e puxando Celina, delicadamente, pelo cabelo, como uma planta que nasce, sem se preocupar, sem tempo... Quase podia ver seu rosto, quando a pisaram brutalmente, um travesti horrivel e sujo, mais horrível e sujo por me destruir a vida. Me pediu umas moedas que mecanicamente tirei do bolso e lhe entreguei. Vi-o andando vorazmente em direção a outra pessoa qualquer, delineando com seu ato um poema de Campos. Não tenho inveja dele, Campos, tenho inveja de mim, de todos os eus das outras dimensões para onde vão os átomos em suas movimentações esperançadas.

Então olhei para o céu, já não sabia mais em que pensava. Olhei à minha frente, o escritório, não sabia como havia chegado.

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